Era uma vez uma creche...

PS. Usarei nomes fictícios pra evitar retaliações futuras.

Isso aconteceu ano passado (2010 se você estiver perdido (a) no tempo). Eu fui trabalhar em uma creche. Eu não tinha experiência NENHUMA. Não sabia trocar fralda, dar papinha, brincar com 30 crianças de uma vez...

Eu lembro que comecei a trabalhar numa segunda-feira. Mas fui na sexta-feira da semana anterior pra conhecer a creche.

Só de olhar pras crianças eu já sabia (porque instinto feminino nunca erra) quem era o mais bagunceiro, o mais fofo, o mais chorão...

Beleza, chegou segunda-feira, e aí a Maria* foi me ensinar como trocar uma fralda. O bebê tinha só feito xixi, então era fácil. Não lembro se troquei mais bebês de manhã, e se troquei, foi só de xixi também. No final da tarde eu fui pro trocador trocar uma criança com cocô, e juro, na porta do trocador formou uma fila com umas oito, OITOOOOOOOOO crianças pra eu trocar em menos de 15 minutos. Umas até já com a fralda limpa na mão, só esperando. O desespero tomou conta e sabe Deus como consegui terminar aquilo tudo. No segundo dia, a diretora me deu a sugestão de mudar de horário com a faxineira, ou seja, de manhã eu cuidava das crianças e a tarde eu fazia faxina. Pensei “tranqüilo, menos fraldas pra trocar”. Espertinha eu. E espertinha a diretora também, que não me contou que eu ia ter que ficar meia hora a mais pra limpar a sala do pré, pra cumprir o meu horário, porque eu começaria meia hora mais tarde que os outros funcionários. Ou seja, eu ia ficar sozinha na creche por meia hora. Na verdade, meia hora sozinha em todo o complexo (creche, APAE e escola). Mesmo assim achei que ia ser melhor, sem criancinhas pra “atrapalhar”. Não era. Eu esqueci que eu sou cagona pra caralho, e ficar sozinha naquela creche vazia dava um medo descomunal. Fora terças e quintas que tinha movimento na APAE, os outros dias eu ficava sozinha naquilo tudo, e as vezes eu ouvia uns barulhinhos estranhos, e o vento no forro (de isopor – coisa bem construída #ironia) fazia o isopor quebrar e fazer um barulhão.

Mas tudo bem, os dias foram passando, ganhei muitas broncas da diretora, porque segundo ela eu não sabia “trocar a fralda direito, não sabia dar papinha, bla bla bla”. E a vontade de sair daquele inferno com aquela mulher era enorme. Mas meu contrato era de um mês. Na última semana, enquanto a gente fazia um lanche – durante o lanche das crianças – surgiu um papo de “fantasmas”. Uma funcionária já tinha tido a experiência de ver um, a outra convivia com alguém que já tinha visto, a outra ouvia vozes, e eu ficando desesperada. Até que uma delas falou que ali mesmo, no trocador da creche a luz tinha apagado do nada enquanto ela trocava uma criança. Adivinha onde eu tinha que ir em seguida? Tempooooo *tic tac tic tac*. Aham, o trocador. Óbvio que podia ser um defeitinho na luz, mas depois do papo de fantasmas, eu meio que entrei em desespero, por dentro. E se meu medo de ficar naquela creche sozinha já era grande, imagina depois desse papo.

No último dia, quando eu achava que nada podia piorar minha estadia por lá, eis que surge a novidade da cozinheira: ela tinha o dia de licença pra fazer uns exames, e quem ia cuidar da comida das crianças a tarde seria eu. A tia Leide NÃO sabe cozinhar, não nasci pra isso, não adianta. E eu pedi imploradamente (eu sei que a palavra não existe, o word sublinhou ela, mas eu sou teimosa e tô usando) pra Joana* me ajudar. Ela ajudou e tudo deu certo, até porque não tinha o que mais dar errado.

Era um dia de chuva. Quando saí parecia cena de filme, quando você deixa um local que “ama” pra nunca mais voltar.

Enfim, a experiência foi boa. Eu ganhava abraços, beijos melecados... E ouvia pérolas do tipo:
- Víiiiiitor, tu veio! - Eu ‘veio’ tia.

Ou:

- Bia, tu que fez isso? - Aham, eu que 'fez'!

Aprendi que não se pode ter vergonha quando se cuida de criança, que quando elas não dormem, um bom cafuné enquanto se canta uma música lentinha ajuda muito, e que não se deve dar feijão com beterraba pra crianças. É sério. Vocês não vão gostar de ver e “sentir” o resultado.

*Nomes fictícios.


Besos, Leide.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS